quarta-feira, 17 de agosto de 2011

O poder da troca

O menino que ouvia o fundo das palavras sabia sempre que música tocava na alma de quem falava com ele. Se triste, encantada, amaldiçoada ou vazia, cada alma se revelava para ele com a clareza do que não se diz e se sente. Todos os sentimentos eram dele à medida que as palavras eram ditas. Ele se perdia odiando, amando, afagando e sofrendo ao conversar. E tanto ouviu e sentiu que calou para sempre. Não por desgosto, mas por plenitude.

(em silêncio, converso muito com este menino)

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Previsão

No País onde Todos Dormiam, acordar doía muito. Era preciso um esforço extremo para abrir os olhos, quase como se fazê-lo fosse o sonho mais temido, e o pesadelo mais paralizante. No País onde Todos Dormiam, quem conseguisse, por fim, despertar, tinha de combater as próprias pálpebras, que insistiam em fechar. Tinha de enfrentar a moleza nos braços e nas pernas, a vontade horizontal aguda, o engano do cansaço de descanso infinito. E quem conseguisse, afinal, manter os olhos abertos, precisava lembrar bem dos seus sonhos para, desperto, ter onde ir. Pois a única coisa boa nesse País é que ele não tinha fronteiras.