Me retiro da minha identidade para saber-me parte. Um filamento na asa do pássaro que sobrevoa o infinito, pedrinha que escorregou para o abismo, a primeira vez que o recém nascido enche os pulmões, e a última expiração de quem perdi, e de quem nem conheço. Amar é fazer o percurso do rio até onde ele se perdoa e deságua no oceano. Eu amo o som da água em movimento e você que me lê, atento, porque me retirei e sou tudo, e tudo é fonte interminável de expansão. Nos vejo impressos agora no limite da compreensão do universo, como tentativas e realizações, como planos e a concretização de planos. Quando olho à frente vejo a eternidade, e quando olho para trás, também. Me dê sua mão, estenda seu olhar, percorra além, perdoe-se por ir e por chegar. Enquanto somos nós, fazemos sombra. Mas como parte da luz nada nos detém ou conclui.
I withdraw from identity to know myself as part. A figment of the bird's wing that hovers infinity, the pebble that slipped into the abyss, the new-born's first breath, and the last time the ones I lost – and the ones I don't even know - breathed out. To love is to follow the river's course up to where it asks for forgiveness and disembogues into the ocean. I love the sound of the water moving - and you who read me, because I withdrew and I am all, and all is an endless source of expansion. I now see us stamped on the threshold of understanding the universe, as attempts and accomplishments, as plans now made concrete. When I look ahead I see eternity, and when I look back I see it too. Give me your hand, look further, walk beyond, forgive yourself for leaving, and for arriving. We project shadows for as long as we remain ourselves. But as part of light nothing keeps us nor causes us to cease.
sábado, 17 de dezembro de 2011
quinta-feira, 3 de novembro de 2011
evolução * evolution
as formigas não dormem
nem eu
meu peito
apertado de passinhos iguais
todos os dias
indo e vindo
me lembro de quando vivia feliz
no duplex do formigueiro
***
ants don't sleep
me neither
my chest
in a lathe of tiny, repeated steps
everyday
coming and going
it reminds me of the times when I lived happily
in the ant hill's penthouse
nem eu
meu peito
apertado de passinhos iguais
todos os dias
indo e vindo
me lembro de quando vivia feliz
no duplex do formigueiro
***
ants don't sleep
me neither
my chest
in a lathe of tiny, repeated steps
everyday
coming and going
it reminds me of the times when I lived happily
in the ant hill's penthouse
domingo, 9 de outubro de 2011
expansão - expansion
eu não sou tudo que tenho. tenho também a ausência de mim, o silêncio do espaço sideral e os olhos fechados, quando enxergam que podem se fechar. além do que sou, sou a possibilidade de não me ser. e isso me permite certa paz, acabamento sutil para meus pensamentos, intervalos de meia luz sob a luz ou a escuridão intensa. poder não ser me abre espaço, coloca em contato com outros códigos, sem decifração, mas belamente articulados sob o olhar que não compreende o que vê.
tudo que eu não sou me faz imortal, infinita, perene, real.
----
i am not all i have. i also have my own absence, the silence from outer space, and closed eyes, when eyes see they can close. besides what i am there is the possibility of not being me, which allows me certain peace, a subtle wrap-up for my thoughts, breaks of half-light under intense light or darkness. not being me makes room, puts me in contact with codes other, undecipherable, though beautifully articulated under my alienated gaze.
all i fail to be makes me imortal, endless, perennial, real.
tudo que eu não sou me faz imortal, infinita, perene, real.
----
i am not all i have. i also have my own absence, the silence from outer space, and closed eyes, when eyes see they can close. besides what i am there is the possibility of not being me, which allows me certain peace, a subtle wrap-up for my thoughts, breaks of half-light under intense light or darkness. not being me makes room, puts me in contact with codes other, undecipherable, though beautifully articulated under my alienated gaze.
all i fail to be makes me imortal, endless, perennial, real.
domingo, 25 de setembro de 2011
Sinais divinos - Divine signs
O mendigo se aproxima, temeroso, do santuário vazio. Ele faz as reverências que sabe e se prostra, na expectativa não de falar com Deus, mas de ouvi-lo. Espera. E enquanto os pássaros cantam aqui e ali, e se fazem ouvir os ruídos da humanidade mais além, o mendigo sente. Se o silêncio fosse total, Deus estaria mudo.
A beggar approaches the empty sanctuary in fear. He shows reverence in his own way, and kneels as he expects not to speak to God, but to hear Him. A feeling overwhelms him while birds sing here and there and the noises of manking are made audible from a distance. If all was silence, God would be dumb.
A beggar approaches the empty sanctuary in fear. He shows reverence in his own way, and kneels as he expects not to speak to God, but to hear Him. A feeling overwhelms him while birds sing here and there and the noises of manking are made audible from a distance. If all was silence, God would be dumb.
quarta-feira, 17 de agosto de 2011
O poder da troca
O menino que ouvia o fundo das palavras sabia sempre que música tocava na alma de quem falava com ele. Se triste, encantada, amaldiçoada ou vazia, cada alma se revelava para ele com a clareza do que não se diz e se sente. Todos os sentimentos eram dele à medida que as palavras eram ditas. Ele se perdia odiando, amando, afagando e sofrendo ao conversar. E tanto ouviu e sentiu que calou para sempre. Não por desgosto, mas por plenitude.
(em silêncio, converso muito com este menino)
(em silêncio, converso muito com este menino)
quarta-feira, 10 de agosto de 2011
Previsão
No País onde Todos Dormiam, acordar doía muito. Era preciso um esforço extremo para abrir os olhos, quase como se fazê-lo fosse o sonho mais temido, e o pesadelo mais paralizante. No País onde Todos Dormiam, quem conseguisse, por fim, despertar, tinha de combater as próprias pálpebras, que insistiam em fechar. Tinha de enfrentar a moleza nos braços e nas pernas, a vontade horizontal aguda, o engano do cansaço de descanso infinito. E quem conseguisse, afinal, manter os olhos abertos, precisava lembrar bem dos seus sonhos para, desperto, ter onde ir. Pois a única coisa boa nesse País é que ele não tinha fronteiras.
domingo, 3 de julho de 2011
Além - Beyond
Tirei calmamente as mãos do bolso e com elas esfreguei até esmigalhar a flor que você me deu. Depois senti o cheiro nas palmas e vi as migalhas das pétalas, tão impermanentes, espalhadas no chão à minha frente. Eu não tinha lágrimas, nem sorrisos. Mas os fatos.
***
I took my hands off my pockets slowly and rubbed the flower you gave me. To pieces. Then I smelled my palms and saw the crumbs, all so impermanent, scattered on the ground in front of me.
No tears, not a smile, but the facts.
***
I took my hands off my pockets slowly and rubbed the flower you gave me. To pieces. Then I smelled my palms and saw the crumbs, all so impermanent, scattered on the ground in front of me.
No tears, not a smile, but the facts.
terça-feira, 28 de junho de 2011
Gaia
Nós estávamos todos em casa. E poderia ter sido um buraco no assoalho, mas foi exatamente o contrário: o piso começou a ganhar volume no ponto em que a luz do lustre mais incidia. No início era igual a quando o piso trabalha e levanta um pouco. Mas não parou ai. Dentro de nossa casa nascia uma montanha que vimos crescer, aos poucos, mas infinitamente. Alguns de nós preocuparam-se em sempre poder ter acesso ao cume, acoplando e adaptando escadas e novos degraus. Outros olhavam, dia após dia, sem querer acreditar na montanha. E outros ainda deram as costas a ela, mas para esses a vida em nossa casa tornou-se um inferno, pois é impossível ignorar a topografia de onde moramos. Uns se mudaram e outros se mudaram para cima da montanha.
the opposite of love isn't hate. it's fear. or indifference.
veja os filmes "zeitgeist" no youtube
***
We were all home. And it could have been a hole in the floor but it was exactly the opposite: floor tiles bulged out there where the chandelier cast its brightest spotlight. In the beginning it was like when the floor adapts to changes or moisture in the ground. But it didn't stop there. Inside our house grew a mountain. We saw it rise little by little, though endlessly. Some of us were concerned with always having access to the top and kept adapting ladders and adding them steps. Others stared, day after day, unwilling to believe it. Others still turned their back on the mountain, but for them life in our home turned into hell. Because you cannot ignore the topography of where you live. Some moved out and some moved to the top.
the opposite of love isn't hate. it's fear. or indifference.
see all zeitgeist films on youtube
the opposite of love isn't hate. it's fear. or indifference.
veja os filmes "zeitgeist" no youtube
***
We were all home. And it could have been a hole in the floor but it was exactly the opposite: floor tiles bulged out there where the chandelier cast its brightest spotlight. In the beginning it was like when the floor adapts to changes or moisture in the ground. But it didn't stop there. Inside our house grew a mountain. We saw it rise little by little, though endlessly. Some of us were concerned with always having access to the top and kept adapting ladders and adding them steps. Others stared, day after day, unwilling to believe it. Others still turned their back on the mountain, but for them life in our home turned into hell. Because you cannot ignore the topography of where you live. Some moved out and some moved to the top.
the opposite of love isn't hate. it's fear. or indifference.
see all zeitgeist films on youtube
sexta-feira, 17 de junho de 2011
até onde podemos mudar as coisas
você é simples e os seus silêncios são planos. Por isso usei seu retrato em preto e branco para colorir, e acrescentei curvatura pronunciada aos contornos de sua face, espessura às sombrancelhas, abundância aos cabelos, feitos agora para cair sobre a testa. Para ver se sua planície de efeitos ganha relevo. Para ver se essa sua imagem lhe dá alguma ideia de variegar, colorir, fazer diferente. Não que a simplicidade não seja bela. Mas dependendo, ela não entretem. Coloco seu retrato, agora maquiado, no portaretratos. Depois, o portaretratos sobre a mesa no meio da sala.
vocé indaga "quem é?" Eu respondo "quem vocé queria que fosse?" A resposta, simples. O siléncio, plano.
(nosso convívio não é uma busca nem um encontro. sobrepomos nosso olhar para vermos melhor.)
***
vocé indaga "quem é?" Eu respondo "quem vocé queria que fosse?" A resposta, simples. O siléncio, plano.
(nosso convívio não é uma busca nem um encontro. sobrepomos nosso olhar para vermos melhor.)
***
domingo, 12 de junho de 2011
o maior dos anseios - the greatest yearn
começo a ser
inteiramente eu
um sentido de concretude
serenidade
e fluxo.
***
I'm turning to be
fully me
a sense of concreteness
serenity
and flow.
inteiramente eu
um sentido de concretude
serenidade
e fluxo.
***
I'm turning to be
fully me
a sense of concreteness
serenity
and flow.
terça-feira, 7 de junho de 2011
subjuntivo - subjunctive
quero muito me ouvir, mas tenho medo de falar em uma língua que não vá entender. todas as vozes caladas, porém, talvez eu consiga um tempo comigo, e nele repartir temores, desejos, mas sobretudo a constatação de que estou irremediavelmente colocada no mundo e que serei retirada dele. ou o mundo é só um entre tantos, e talvez nem exista. eu, você, nossas imagens no espelho do tempo que sempre quebra. talvez existamos apenas como intenção. um fato pode não ser. a luz sobre as coisas é a única garantia de que algo exista: enquanto e somente enquanto a luz ilumina. é isso: somos apenas um contraste de luz e sombra, e tudo o mais o é. não sobra outra coisa senão luz, sombra, e memória da sombra e da luz. mas quem descreveria com precisão um raio de sol sobre si mesmo? sobre o outro? me calo. não tenho esse poder. ninguém tem. somos, como contrastes, uma história sem fim. e a história que não se conta até o fim não se cumpre.
✦✦✦
i want so much to listen to myself, but i fear i might speak a language i will not understand. all voices silenced, however, perhaps i'll find some time with myself and then share fears, desires, but above all the understanding that i've been helplessly placed in the world and will be removed from it. or else this world is but one among many, and it might not even exist. you, me, our images on the mirror of time, always cracking. perhaps we exist only as an intention. a fact may fail to be. the light on things is the sole guarantee of existence whatsoever: while and only while light is shining. this is it: we are just the contrast of light and shadow, and the memory of shadow and of light. who would render a precise description of a sun beam on one's self? on another? i say nothing. i'm powerless. we all are. as contrasts, we are a story without an end. and a story that is not told to its end does not fulfill itself.
✦✦✦
i want so much to listen to myself, but i fear i might speak a language i will not understand. all voices silenced, however, perhaps i'll find some time with myself and then share fears, desires, but above all the understanding that i've been helplessly placed in the world and will be removed from it. or else this world is but one among many, and it might not even exist. you, me, our images on the mirror of time, always cracking. perhaps we exist only as an intention. a fact may fail to be. the light on things is the sole guarantee of existence whatsoever: while and only while light is shining. this is it: we are just the contrast of light and shadow, and the memory of shadow and of light. who would render a precise description of a sun beam on one's self? on another? i say nothing. i'm powerless. we all are. as contrasts, we are a story without an end. and a story that is not told to its end does not fulfill itself.
domingo, 5 de junho de 2011
Luz e sombra - Light and shadow
Eu posso ir além e pedir, além de sua atenção, seu olhar. E além de seu olhar, pedir o fundo do seu pensamento. O lugar onde o que você pensa aparece, paira, some. Ali, quero lembrar-lhe: nada lhe pertence, nada permanece. Compartilhe o fato comigo, em silêncio, ao sol, no frio do tempo.
Nao tenho por onde continuar assim minha caminhada. Meus pes doem e a Estrada e muito longa. Tenho pedido, ao longo do caminho, que me vejam, me alimentem, me deem de beber e onde dormir. Agora nao posso mais. Preciso erguer meu corpo a uma altura e com uma tal determinacao que o proprio caminho nao tera importancia, porque a cada novo passo terei caminhado todo o trecho, a cada gesto terei feito todos os movimentos. A cada silencio terei revelado todos os segredos e a cada fala, silenciado todas as verdades. Estarei caminhando para sempre sem jamais ter continuado, inciado ou parado de caminhar. Porque todas as coisas estão, basta o olhar.
Há uma linha entre a sombra e a luz. Há um detalhe que não vi entre o meu e o seu olhar, a equação eterna da perda e do ganho havido na experiencia de perder, a equação do limiar. Anseio sutilmente pela voz que me fala. E se ela não se fizer, anseio pelo riqueza contida em calar. Anseio pelo olhar, o olhar, o olhar. O brilho que há em ver. Se pudesse, faria confluir toda a luz do universo para revelar – e suprimir – o limiar.
✦✦✦
I can go beyond and ask, besides your attention, for you to just see me. And beyond you seeing me, I can ask for some room in the background of your thoughts. There, where thinking happens, hovers and vanishes. Once there, I'll remind you: nothing belongs to you, all is impermanent. Let us share the fact in silence, under the sun, in the cold of time.
I cannot keep walking like this. My feet hurt and the road is too long. I’ve asked along the way for people to see me, feed me, give me what to drink and a place to sleep. Now I just can’t anymore. I’ve got to stand so and with such determination that the very way I walk grows unimportant as with every new step I will have walked the whole path, with every new gesture I will have signaled in every direction. In my silence all secrets will have been revealed and each word will have silenced the truth. I will be walking forever, not caring about beginning, continuity or an end to my steps. Because everything is, if only you have an eye for them.
There’s a line between shadow and light. A detail I missed involving your eyes and mine, the endless equation of loss and the gain contained in losing, the threshold equation. I yearn subtly for a voice that words me. And if it fails, I yearn for the wealth of silence. I wish I was seen. Eyes that glimmer. If I could, I would make all the light of the universe converge on this threshold and supress it.
Nao tenho por onde continuar assim minha caminhada. Meus pes doem e a Estrada e muito longa. Tenho pedido, ao longo do caminho, que me vejam, me alimentem, me deem de beber e onde dormir. Agora nao posso mais. Preciso erguer meu corpo a uma altura e com uma tal determinacao que o proprio caminho nao tera importancia, porque a cada novo passo terei caminhado todo o trecho, a cada gesto terei feito todos os movimentos. A cada silencio terei revelado todos os segredos e a cada fala, silenciado todas as verdades. Estarei caminhando para sempre sem jamais ter continuado, inciado ou parado de caminhar. Porque todas as coisas estão, basta o olhar.
Há uma linha entre a sombra e a luz. Há um detalhe que não vi entre o meu e o seu olhar, a equação eterna da perda e do ganho havido na experiencia de perder, a equação do limiar. Anseio sutilmente pela voz que me fala. E se ela não se fizer, anseio pelo riqueza contida em calar. Anseio pelo olhar, o olhar, o olhar. O brilho que há em ver. Se pudesse, faria confluir toda a luz do universo para revelar – e suprimir – o limiar.
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I can go beyond and ask, besides your attention, for you to just see me. And beyond you seeing me, I can ask for some room in the background of your thoughts. There, where thinking happens, hovers and vanishes. Once there, I'll remind you: nothing belongs to you, all is impermanent. Let us share the fact in silence, under the sun, in the cold of time.
I cannot keep walking like this. My feet hurt and the road is too long. I’ve asked along the way for people to see me, feed me, give me what to drink and a place to sleep. Now I just can’t anymore. I’ve got to stand so and with such determination that the very way I walk grows unimportant as with every new step I will have walked the whole path, with every new gesture I will have signaled in every direction. In my silence all secrets will have been revealed and each word will have silenced the truth. I will be walking forever, not caring about beginning, continuity or an end to my steps. Because everything is, if only you have an eye for them.
There’s a line between shadow and light. A detail I missed involving your eyes and mine, the endless equation of loss and the gain contained in losing, the threshold equation. I yearn subtly for a voice that words me. And if it fails, I yearn for the wealth of silence. I wish I was seen. Eyes that glimmer. If I could, I would make all the light of the universe converge on this threshold and supress it.
quinta-feira, 2 de junho de 2011
terça-feira, 31 de maio de 2011
o dom da espera - the gift of expectation
estendo meus braços para te encontrar. Com as mãos. Sinto os espinhos, a aspereza, o toque de um veludo usado demais. vou além e minhas mãos ganham o vazio. nem corpos, nem espinhos. nem eu.
✦✦✦
I reach out my arms to find you. Find you with my hands. I touch thorns, coarseness, worn, torn velvet. I reach out beyond and my hands are given emptiness. no bodies, no thorns, no me.
✦✦✦
I reach out my arms to find you. Find you with my hands. I touch thorns, coarseness, worn, torn velvet. I reach out beyond and my hands are given emptiness. no bodies, no thorns, no me.
domingo, 22 de maio de 2011
despertar - awakening
Junto minhas roupas. Espalhadas pelo chão. Visto. Estou só mas é como se não estivesse. Tem olhos nas coisas. Por isso passo meus dedos sobre cada objeto a minha volta, na altura dos olhos que o objeto tem, para fechá-los.
✦✦✦
I pick up my clothes. They're everywhere on the floor. I put them on. I'm alone but it is as if I wasn't. Things have eyes. That is why I pass my fingers gently on every object around me, there where their eyes are, to slide their eyelids closed.
✦✦✦
I pick up my clothes. They're everywhere on the floor. I put them on. I'm alone but it is as if I wasn't. Things have eyes. That is why I pass my fingers gently on every object around me, there where their eyes are, to slide their eyelids closed.
quinta-feira, 19 de maio de 2011
surrounding noise - ruído circundante
it takes more than silence to listen
to yourself it takes more
than what you proprietarily think self is
to include what smart minds choose to miss -
dimensions obscure, delineated
in the blank spaces of the all-present you
you alienated.
✦✦✦
precisa mais do que silêncio para ouvir
o próprio eu precisa mais
do que o que você, com toda a propriedade, pensa ser esse eu:
há que incluir aquilo que pensadores brilhantes escolhem evitar -
dimensões obscuras, o mundo delineado
nos espaços em branco do eu onipresente
o eu alienado.
to yourself it takes more
than what you proprietarily think self is
to include what smart minds choose to miss -
dimensions obscure, delineated
in the blank spaces of the all-present you
you alienated.
✦✦✦
precisa mais do que silêncio para ouvir
o próprio eu precisa mais
do que o que você, com toda a propriedade, pensa ser esse eu:
há que incluir aquilo que pensadores brilhantes escolhem evitar -
dimensões obscuras, o mundo delineado
nos espaços em branco do eu onipresente
o eu alienado.
sábado, 30 de abril de 2011
oblation
to the Gods of spontaneity
creativity, surrender and
transmutation:
I offer you
all I exist.
creativity, surrender and
transmutation:
I offer you
all I exist.
Acontece com todos nós - Happens to us all
Um anjo sentou ao meu lado e me explicou, um a um, os mistérios da vida. Ele parava às vezes, não para tomar fôlego, porque anjo não está sujeito aos esforços envolvidos no respirar, mas para colher a minha atenção inteira com seu silêncio. Eu ouvia, imerso. E quando o anjo concluiu sua fala e seus silêncios, sorriu e me fez esquecer, um a um, os mistérios da vida.
✦✦✦
An angel sat by my side and explained to me the mysteries of life, one by one. The angel stopped at times, not to catch breath, as angels aren't subject to the efforts involved in breathing, but to amass the whole of my attention with the help of those silent spells. I listened, in immersion. Once done with talking and silencing, the angel smiled and made me forget, one by one, the mysteries of life.
✦✦✦
An angel sat by my side and explained to me the mysteries of life, one by one. The angel stopped at times, not to catch breath, as angels aren't subject to the efforts involved in breathing, but to amass the whole of my attention with the help of those silent spells. I listened, in immersion. Once done with talking and silencing, the angel smiled and made me forget, one by one, the mysteries of life.
Estações - Seasons
Assim como um verme passeia livremente pelos orificios de um crânio putrefato, também você cruza meus pensamentos, visita meus sonhos, faz aparições em meus relatos internos. Te empurro um pouco para lá, mas deixo o verme fazer seu trabalho: logo toda a putrefação terá sido consumida e então sequer crânio haverá. Já eu, meus pensamentos, sonhos, relatos, teremos sido outro corpo. Na primavera.
✦✦✦
Just as a worm moves freely through the holes of a putrid skull, so you cross my thoughts, visit my dreams and make appearances during silent speeches. I push you aside a little, but let the worm do its job. Soon there will be no putrid matter left. Soon, not even the skull. Yet me, you see, my thoughts, dreams, speeches, we will have been another body. By spring.
✦✦✦
Just as a worm moves freely through the holes of a putrid skull, so you cross my thoughts, visit my dreams and make appearances during silent speeches. I push you aside a little, but let the worm do its job. Soon there will be no putrid matter left. Soon, not even the skull. Yet me, you see, my thoughts, dreams, speeches, we will have been another body. By spring.
quinta-feira, 28 de abril de 2011
Preciosa - Precious
Lembro bem. A ponta do meu pé ficou mais pesada. Comecei a caminhar fazendo mais força do lado esquerdo para erguer a perna e avançar. Depois de um dia ou dois, o toque da pele no mesmo lugar tornou-se áspero. Parte do meu pé parecia pedra.
Parte do meu pé parecia pedra - era frio, pesado, sem movimento. Ai, a perna toda. E a outra. Era quase interessante ver a paralisia e a transmutação, não estivesse o meu eu se desfazendo junto, pois todos sabem que as pedras só sabem ficar imóveis.
Na minha nova condição, eu não contaria mais histórias. Não sorriria. Nem daria adeus aos amigos depois de tê-los encontrado. Não os encontraria.
Meu corpo todo, pedr
✦✦✦
I remember well. The tip of my foot got heavier. I began to force my left leg up and forward to be able to walk. After a day or two, the skin there turned coarse. Part of my foot seemed to be made of stone - it was cold, heavy, motionless. Then my whole leg. It was almost interesting to see paralysis and transmutation, had the very I in me not been in the process of disassembly, as everybody knows stones only know how to stay still. In this new condition of mine, I would tell no more stories. I would not smile or say good-bye to my friends after having met with them. I wouldn't meet them.
the whole of me, ston
Parte do meu pé parecia pedra - era frio, pesado, sem movimento. Ai, a perna toda. E a outra. Era quase interessante ver a paralisia e a transmutação, não estivesse o meu eu se desfazendo junto, pois todos sabem que as pedras só sabem ficar imóveis.
Na minha nova condição, eu não contaria mais histórias. Não sorriria. Nem daria adeus aos amigos depois de tê-los encontrado. Não os encontraria.
Meu corpo todo, pedr
✦✦✦
I remember well. The tip of my foot got heavier. I began to force my left leg up and forward to be able to walk. After a day or two, the skin there turned coarse. Part of my foot seemed to be made of stone - it was cold, heavy, motionless. Then my whole leg. It was almost interesting to see paralysis and transmutation, had the very I in me not been in the process of disassembly, as everybody knows stones only know how to stay still. In this new condition of mine, I would tell no more stories. I would not smile or say good-bye to my friends after having met with them. I wouldn't meet them.
the whole of me, ston
sábado, 23 de abril de 2011
negócio imobiliário - real estate business
"Aqui estão meus brincos", disse ela. "São de pérolas. Verdadeiras." Isso para mim só significava mais sofrimento, porque as pérolas são lágrimas, e se não são lágrimas, então uma irritação, um incômodo irresolvível para as ostras.
Pego os brincos. Aceito-os junto com todas as outras posses que ela me cede, transfere, num ato frio de responsabilidade administrativa.
Faz a volta no terreno, me lança um último olhar e se lança no abismo que há tanto tempo esperava, nos fundos da casa, por essa queda.
Preciso vender essa casa.
(Somos amados enquanto existimos e depois que morremos por um tempo apenas, mas eu ainda)
***
"Here are my earrings", she said. "Real pearls".
For me it only meant more suffering, as pearls are tears. If not, they are a reaction, a disturbance oysters cannot avoid.
I take the earrings, accepting them like I did with her other belongings, which she transferred to me in a cold act of adminstrative responsibility.
She walks around the property, eyeing me one last time before throwing herself into the backyard abyss. It had waited long for this fall.
I got to sell this house.
(we're loved while we exist and after we die we're loved for some time but I still)
Pego os brincos. Aceito-os junto com todas as outras posses que ela me cede, transfere, num ato frio de responsabilidade administrativa.
Faz a volta no terreno, me lança um último olhar e se lança no abismo que há tanto tempo esperava, nos fundos da casa, por essa queda.
Preciso vender essa casa.
(Somos amados enquanto existimos e depois que morremos por um tempo apenas, mas eu ainda)
***
"Here are my earrings", she said. "Real pearls".
For me it only meant more suffering, as pearls are tears. If not, they are a reaction, a disturbance oysters cannot avoid.
I take the earrings, accepting them like I did with her other belongings, which she transferred to me in a cold act of adminstrative responsibility.
She walks around the property, eyeing me one last time before throwing herself into the backyard abyss. It had waited long for this fall.
I got to sell this house.
(we're loved while we exist and after we die we're loved for some time but I still)
sexta-feira, 15 de abril de 2011
Um demônio na sala - A demon in the room
Os móveis são poucos, mas bem escolhidos e posicionados. Mesa, quatro cadeiras. Assoalho com brilho. Vazio, expansivo. A poltrona vermelha, alta, giratória, magra, reina num canto vazio próxima à janela. Cortinas brancas transparentes se movem com suavidade por causa da brisa. A janela está entreaberta. Fazemos nossa refeição. Silêncio. O toque esporádico de um garfo ou faca na louça forma um diálogo de ruidos. Os argumentos dos talheres são pífios. Trocamos olhares.Às vezes olhamos, juntos, para nossa poltrona vermelha.
✦✦✦
Little furniture, though well chosen and situated. A table, four chairs. Empty, expansive, shiny floor. The red tall slender swivel armchair rules in an empty corner by the the window. White transparent curtains swing softly because of the breeze. The window's ajar. We're having our meal in silence. The intermittent contact of a fork or a knife with the china creates a dialog of noises. The cutlery's arguments are poor. We exchange glances, at times turning together to see our red armchair.
✦✦✦
Little furniture, though well chosen and situated. A table, four chairs. Empty, expansive, shiny floor. The red tall slender swivel armchair rules in an empty corner by the the window. White transparent curtains swing softly because of the breeze. The window's ajar. We're having our meal in silence. The intermittent contact of a fork or a knife with the china creates a dialog of noises. The cutlery's arguments are poor. We exchange glances, at times turning together to see our red armchair.
quarta-feira, 13 de abril de 2011
I know why poets kill themselves
I know why poets kill themselves
I know why the stones the gas the guns
I know the feeling of unrecoverable loss
I know the moss
that gathers on these hearts
looking so curious, at first glossy
with warm blood and throbbing
with all the questions unanswered
all the stars bright and the lack
of echo in the skies
but then these hearts are gloomy, coarse
and swollen with silence (the answers are never given)
we die before
and that's why poets kill themselves
because when they die to others
they have already died to themselves
I know why the stones the gas the guns
I know the feeling of unrecoverable loss
I know the moss
that gathers on these hearts
looking so curious, at first glossy
with warm blood and throbbing
with all the questions unanswered
all the stars bright and the lack
of echo in the skies
but then these hearts are gloomy, coarse
and swollen with silence (the answers are never given)
we die before
and that's why poets kill themselves
because when they die to others
they have already died to themselves
sem título
Você estende a mão e e eu seguro. Embora áspera como uma dor, seguro firme. Como se do contato com essa mão dependesse o meu continuar a viver. E eu quero continuar a viver. Porque viver é bonito, é em cores e movimentos, e eu aprecio tudo isso. Sua mão me puxa, me dói, e eu permaneço grudada nela, pedindo um caminho, um destino; o toque, seja qual for, que vai me dar sentido e rumo. Chegamos a algum lugar, você solta minha mão e me indica: você fica aqui. O lugar é paupérrimo. Em vez de piso, é chão batido. Em vez de cama, um catre. Paredes empoeiradas e um restinho de sol. Minha mão sente até agora o áspero da sua, embora se tenham soltado. A memória da aspereza. Difícil aceitar ficar, mas você me diz: "não há outro lugar, você não pertence a lugar algum a não ser este. Aqui, cm esse restinho de sol, eu te deixo."
E fico. Passam as horas. Passam os dias. Não tenho o que comer e não sei como sair. Não tenho as chaves, e sequer me sinto presa. É como se não tivesse direito de estar em qualquer outro lugar. Parece que pertenço aqui. Pertenço aqui.
Você não volta. Ninguém aparece. Mal levanto a caneta para riscar a letra que forma a sílaba que finaliza a palavra que você nunca disse, nunca ouvi: amor. Choro o resto da minha existência neste lugar. Seco no lugar. Termino como um fim.
E fico. Passam as horas. Passam os dias. Não tenho o que comer e não sei como sair. Não tenho as chaves, e sequer me sinto presa. É como se não tivesse direito de estar em qualquer outro lugar. Parece que pertenço aqui. Pertenço aqui.
Você não volta. Ninguém aparece. Mal levanto a caneta para riscar a letra que forma a sílaba que finaliza a palavra que você nunca disse, nunca ouvi: amor. Choro o resto da minha existência neste lugar. Seco no lugar. Termino como um fim.
segunda-feira, 4 de abril de 2011
Pessoas reais - Real people
Pessoas reais
pisam na realidade
de pés descalços.
Real people
step on reality
barefoot.
pisam na realidade
de pés descalços.
Real people
step on reality
barefoot.
terça-feira, 29 de março de 2011
ninguéns poderosos - powerful nobodies
ninguéns poderosos são pessoas cujo poder, material, externo e transitório assume traços de personalidade e determina sua posição em relação aos demais como alguém que é mais: mais simesmo, mais gente. Uma pena que se comprova quando a mudança vem.
powerful nobodies are people whose material, external and transient power takes on personality traits and determines their position in relation to everyone else as someone who is more: more "oneself", more "person". A sorry fact that is revealed as change comes.
powerful nobodies are people whose material, external and transient power takes on personality traits and determines their position in relation to everyone else as someone who is more: more "oneself", more "person". A sorry fact that is revealed as change comes.
uma semana na Amazonia, em jan 2011. - a one week trip to the state of Amazonia in Jan 2011
Amazonia Amazonia Amazonia
a macaca do hotel mordeu
com raiva a minha caneta
na selva, frutas e frutos
e latinhas de cerveja e
coca-cola nos rios
uma jiboia atropelada
na estrada esburacada
moribunda, mostra a língua
ruas sujas, gente com cara de índio
repete passos no caos e há
o legado abandonado
no museu vazio
um americano reclama, dificuldades com o IBAMA
algo se desmonta - é calor
é uma zona, uma zona, uma zona
✦✦✦
Amazon Amazon Amazon
I hold the pen
fiercely bitten by the she monkey
in a jungle hotel
fallen fruit and beer and coke
tin cans, on rivers, afloat
a knocked over boa
on a potholed road
blinks, dyingly
the streets are dirty
Indian-looking people walk
this chaos again and again
the despised heritage in an empty museum
I hear an American complain
environmental policies on his way
something's dismantling - it's soaking hot
Amazonia: a mess zone a mess
I'm gone.
Manaus antigo - foto de uma tela em um museu. Old Manaus - picture of a canvas in a museum.
não vou dizer o que é. I won't tell you what this is.
nesta "luva" os meninos indios colocavam a mão - ela era preenchida com formigas vivas e eles tinham de aguentar a dor das picadas. Era esse o rito de passagem para a idade adulta. eu soube depois que as tais picadas dessa formiga especifica funcionavam como uma vacina para doenças da selva, como malária e febre amarela.✦✦✦
this "glove" was for boys to put their hands in. it was filled with ants the bites of which they had to withstand. this was their passage rite into adulthood. I later learned that bites by this specific type of ant worked like a vaccine against jungles diseases like malaria and yellow fever.
achei essa árvore de igapó parecida com a árvore que se vê em muitos desehos antigos como o símbolo da cabala. um igapó, a propósito, é uma área onde a vegetação cresce em meio a uma grande quantidade de água cujos niveis variam em medidas inimagináveis ao longo das estações. parece que a cada ano a distância entre as medidas aumenta e assim tem havido cheias e secas desequilibradas. adivinhe por quê.✦✦✦
I thought this igapo tree is like the tree we see in many ancient drawings as the symbol of Kabbalah. an igapo, btw, is an area where vegetation grows in considerable amounts of water, the level of which varies in unimaginable measures along the seasons. it seems every year the gap grows larger and so there have been unbalanced floods and draughts. guess why.
a tal macaca, Conchita. Ela tem uma relação de amor e ódio com os hóspedes. ✦✦✦ Conchita,the she monkey. She has a love and hate relationship with the guests.
a macaca do hotel mordeu
com raiva a minha caneta
na selva, frutas e frutos
e latinhas de cerveja e
coca-cola nos rios
uma jiboia atropelada
na estrada esburacada
moribunda, mostra a língua
ruas sujas, gente com cara de índio
repete passos no caos e há
o legado abandonado
no museu vazio
um americano reclama, dificuldades com o IBAMA
algo se desmonta - é calor
é uma zona, uma zona, uma zona
✦✦✦
Amazon Amazon Amazon
I hold the pen
fiercely bitten by the she monkey
in a jungle hotel
fallen fruit and beer and coke
tin cans, on rivers, afloat
a knocked over boa
on a potholed road
blinks, dyingly
the streets are dirty
Indian-looking people walk
this chaos again and again
the despised heritage in an empty museum
I hear an American complain
environmental policies on his way
something's dismantling - it's soaking hot
Amazonia: a mess zone a mess
I'm gone.
Manaus antigo - foto de uma tela em um museu. Old Manaus - picture of a canvas in a museum.
não vou dizer o que é. I won't tell you what this is.
nesta "luva" os meninos indios colocavam a mão - ela era preenchida com formigas vivas e eles tinham de aguentar a dor das picadas. Era esse o rito de passagem para a idade adulta. eu soube depois que as tais picadas dessa formiga especifica funcionavam como uma vacina para doenças da selva, como malária e febre amarela.✦✦✦
this "glove" was for boys to put their hands in. it was filled with ants the bites of which they had to withstand. this was their passage rite into adulthood. I later learned that bites by this specific type of ant worked like a vaccine against jungles diseases like malaria and yellow fever.
achei essa árvore de igapó parecida com a árvore que se vê em muitos desehos antigos como o símbolo da cabala. um igapó, a propósito, é uma área onde a vegetação cresce em meio a uma grande quantidade de água cujos niveis variam em medidas inimagináveis ao longo das estações. parece que a cada ano a distância entre as medidas aumenta e assim tem havido cheias e secas desequilibradas. adivinhe por quê.✦✦✦
I thought this igapo tree is like the tree we see in many ancient drawings as the symbol of Kabbalah. an igapo, btw, is an area where vegetation grows in considerable amounts of water, the level of which varies in unimaginable measures along the seasons. it seems every year the gap grows larger and so there have been unbalanced floods and draughts. guess why.
a tal macaca, Conchita. Ela tem uma relação de amor e ódio com os hóspedes. ✦✦✦ Conchita,the she monkey. She has a love and hate relationship with the guests.
terça-feira, 22 de março de 2011
Hoje foi assim:
Na verdade:
não diga tanto isso
você
não
conhece
a verdade
(eu tampouco. por favor, entenda)
✦✦✦
In reality:
stop saying this as
reality is
not
known.
(not by me not by any
one)
------
Seeker Of Truth by E. E. Cummings
seeker of truth
follow no path
all paths lead where
truth is here
---
ao buscar a verdade
não siga caminho algum
todos levam onde
a verdade está aqui.
tradução minha
✦✦✦✦✦✦
Se eu escolho ir por ali
deixo de ir
por todos os outros lugares
se não vou
não percorro nem vivencio e
deixo de ser
diante da escolha necessária e a
não escolha de morte penso
muito.
e escrevo para tentar
(quem sabe)
amar
✦✦✦
if I choose to go that way
I fail to walk
in every other direction
if I fail to choose
there's no walk or life
and I fail to be
between the bossy choice
and the deadly absence
of choice I ponder much.
then I write, seeking to
(possibly, dangerously)
love.
não diga tanto isso
você
não
conhece
a verdade
(eu tampouco. por favor, entenda)
✦✦✦
In reality:
stop saying this as
reality is
not
known.
(not by me not by any
one)
------
Seeker Of Truth by E. E. Cummings
seeker of truth
follow no path
all paths lead where
truth is here
---
ao buscar a verdade
não siga caminho algum
todos levam onde
a verdade está aqui.
tradução minha
✦✦✦✦✦✦
Se eu escolho ir por ali
deixo de ir
por todos os outros lugares
se não vou
não percorro nem vivencio e
deixo de ser
diante da escolha necessária e a
não escolha de morte penso
muito.
e escrevo para tentar
(quem sabe)
amar
✦✦✦
if I choose to go that way
I fail to walk
in every other direction
if I fail to choose
there's no walk or life
and I fail to be
between the bossy choice
and the deadly absence
of choice I ponder much.
then I write, seeking to
(possibly, dangerously)
love.
domingo, 20 de março de 2011
Fare and fear come from the same word
I fear your presence
Fear your absence
I don't care what you are called
I know you're there
Your face and body frozen inside my wall
Faces jut from the wall surface yearning to see and feel and be seen and
felt
they struggle to come out, as the wall sucks them back up into its limits
again
we shall soon converse and be free.
---
O medo é um meio
Temo tua presença
Temo tua ausência
Não me importa qual é o teu nome
Sei que estás preso em minha parede,
imóvel, corpo e cara.
Rostos se projetam da superfície da parede em busca de ver e sentir e de
provocar
Visão e sentimento
Debatem-se para sair enquanto a parede os reabsorve para dentro de seus
limites
Em breve conversaremos
E seremos livres.
I fear your presence
Fear your absence
I don't care what you are called
I know you're there
Your face and body frozen inside my wall
Faces jut from the wall surface yearning to see and feel and be seen and
felt
they struggle to come out, as the wall sucks them back up into its limits
again
we shall soon converse and be free.
---
O medo é um meio
Temo tua presença
Temo tua ausência
Não me importa qual é o teu nome
Sei que estás preso em minha parede,
imóvel, corpo e cara.
Rostos se projetam da superfície da parede em busca de ver e sentir e de
provocar
Visão e sentimento
Debatem-se para sair enquanto a parede os reabsorve para dentro de seus
limites
Em breve conversaremos
E seremos livres.
sábado, 19 de março de 2011
traduções para Stufen, do Herman Hesse - Übersetzungen für Stufen, von Hermann Hesse (ins Englische und Portugiesische) - Portuguese and English translations for Stages/Phases (Stufen) by Hermann Hesse
Phases
as every flower wilts and youth
gives way to age, so unfolds every phase,
all the wisdom and virtue
when it so does - and know that none lasts forever.
With every call of life, the heart
must be ready to part and start
again, in courage and joy,
surrendering to new, otherly liasons, as
In the core of every beginning lives magic
Magic that protects us and helps us live.
We are to stride along spaces, joyously,
clinging to none as thought it was home
the world soul does not seek to fetter and confine us;
phase after phase it wants to elevate and expand us.
slumber grows threatening as soon as we,
immersed in coziness, become used
to a cycle in our lives -
Only those ready to part, depart
may rid themselves of paralyzing habits.
Perhaps, as the call of life in us finds no end,
at the hour of our death we are still
to be faced with novel spaces. walk on then,
be off, be well!,
oh sweet heart of ours.
Etapas
se toda a flor fenece e ser jovem abre caminho a envelhecer
também etapas, sabedoria e virtudes florescem
a seu tempo, sem permissão para sempre permanecer.
o coração precisa estar pronto para despedida
a cada chamado da vida e recomeço;
corajoso, sem tristeza, vai se entregar
a novos e diferentes laços, pois
Começos abrigam magia protetora
que nos ajuda a viver.
E cada novo espaço é para percorrer com mais ânimo
sem qualquer apego às paisagens que oferece.
A alma do mundo não nos quer para aprisionar, restringir
e sim a cada etapa elevar, expandir.
mal nos sentimos em casa e no conforto
de uma fase da vida, nos ameaça a sonolência -
só quem está pronto para irromper e partir
pode se desprender dos hábitos de paralisia.
talvez ainda a hora de morrer
nos traga mais paisagens, espaços, pois
a voz da vida em nós não cessa.
Então abraça a despedida, coração,
e te refaz.
Stufen
Wie jede Blüte welkt und jede Jugend
Dem Alter weicht, blüht jede Lebensstufe,
Blüht jede Weisheit auch und jede Tugend
Zu ihrer Zeit und darf nicht ewig dauern.
Es muß das Herz bei jedem Lebensrufe
Bereit zum Abschied sein und Neubeginne,
Um sich in Tapferkeit und ohne Trauern
In andre, neue Bindungen zu geben.
Und jedem Anfang wohnt ein Zauber inne,
Der uns beschützt und der uns hilft, zu leben.
Wir sollen heiter Raum um Raum durchschreiten,
an keinem wie an einer Heimat hängen,
der Weltgeist will nicht fesseln uns und engen,
er will uns Stuf' um Stufe heben, weiten!
Kaum sind wir heimisch einem Lebenskreise
Und traulich eingewohnt, so droht Erschlaffen,
Nur wer bereit zu Aufbruch ist und Reise,
Mag lähmender Gewöhnung sich entraffen.
Es wird vielleicht auch noch die Todesstunde
Uns neuen Räumen jung entgegen senden,
Des Lebens Ruf an uns wird niemals enden...
Wohlan denn, Herz, nimm Abschied und gesunde!
as every flower wilts and youth
gives way to age, so unfolds every phase,
all the wisdom and virtue
when it so does - and know that none lasts forever.
With every call of life, the heart
must be ready to part and start
again, in courage and joy,
surrendering to new, otherly liasons, as
In the core of every beginning lives magic
Magic that protects us and helps us live.
We are to stride along spaces, joyously,
clinging to none as thought it was home
the world soul does not seek to fetter and confine us;
phase after phase it wants to elevate and expand us.
slumber grows threatening as soon as we,
immersed in coziness, become used
to a cycle in our lives -
Only those ready to part, depart
may rid themselves of paralyzing habits.
Perhaps, as the call of life in us finds no end,
at the hour of our death we are still
to be faced with novel spaces. walk on then,
be off, be well!,
oh sweet heart of ours.
Etapas
se toda a flor fenece e ser jovem abre caminho a envelhecer
também etapas, sabedoria e virtudes florescem
a seu tempo, sem permissão para sempre permanecer.
o coração precisa estar pronto para despedida
a cada chamado da vida e recomeço;
corajoso, sem tristeza, vai se entregar
a novos e diferentes laços, pois
Começos abrigam magia protetora
que nos ajuda a viver.
E cada novo espaço é para percorrer com mais ânimo
sem qualquer apego às paisagens que oferece.
A alma do mundo não nos quer para aprisionar, restringir
e sim a cada etapa elevar, expandir.
mal nos sentimos em casa e no conforto
de uma fase da vida, nos ameaça a sonolência -
só quem está pronto para irromper e partir
pode se desprender dos hábitos de paralisia.
talvez ainda a hora de morrer
nos traga mais paisagens, espaços, pois
a voz da vida em nós não cessa.
Então abraça a despedida, coração,
e te refaz.
Stufen
Wie jede Blüte welkt und jede Jugend
Dem Alter weicht, blüht jede Lebensstufe,
Blüht jede Weisheit auch und jede Tugend
Zu ihrer Zeit und darf nicht ewig dauern.
Es muß das Herz bei jedem Lebensrufe
Bereit zum Abschied sein und Neubeginne,
Um sich in Tapferkeit und ohne Trauern
In andre, neue Bindungen zu geben.
Und jedem Anfang wohnt ein Zauber inne,
Der uns beschützt und der uns hilft, zu leben.
Wir sollen heiter Raum um Raum durchschreiten,
an keinem wie an einer Heimat hängen,
der Weltgeist will nicht fesseln uns und engen,
er will uns Stuf' um Stufe heben, weiten!
Kaum sind wir heimisch einem Lebenskreise
Und traulich eingewohnt, so droht Erschlaffen,
Nur wer bereit zu Aufbruch ist und Reise,
Mag lähmender Gewöhnung sich entraffen.
Es wird vielleicht auch noch die Todesstunde
Uns neuen Räumen jung entgegen senden,
Des Lebens Ruf an uns wird niemals enden...
Wohlan denn, Herz, nimm Abschied und gesunde!
sexta-feira, 18 de março de 2011
peut-être
molho meu pé na água fria do rio. tudo no rio passa. Da margem, contemplo. atravesso, de um lado a outro, eternamente, imitando o movimento do rio, mas em outro sentido. teimosamente, com a criatividade ilusória dos movimentos contrários, repito meus passos sem parar. todo o meu corpo, gelado com a água do rio, responde que posso ir e vir, ir e vir, eu mesma, um rio. (curso estreito, profundidade surpreendente, corrente forte). Eu amo a forma como tudo no mundo muda.
✦✦✦
I wet my feet in the cold river waters. in the river, all flows. From its banks, I watch and cross it, reaching to either side, eternally, alternatively. I imitate the river's movement, only in a different sense. Stubborn, acting from the deceptive creativity that is in any contrary movement, I keep taking the same steps. The whole of my body, made cold by river waters, responds I can come and go, come and go. Myself, a river (narrow course, surprising depth, strong flow). I love the way how everything in the world changes.
✦✦✦
I wet my feet in the cold river waters. in the river, all flows. From its banks, I watch and cross it, reaching to either side, eternally, alternatively. I imitate the river's movement, only in a different sense. Stubborn, acting from the deceptive creativity that is in any contrary movement, I keep taking the same steps. The whole of my body, made cold by river waters, responds I can come and go, come and go. Myself, a river (narrow course, surprising depth, strong flow). I love the way how everything in the world changes.
quinta-feira, 17 de março de 2011
✦✦✦
o infinito fica exatamente entre uma coisa e outra. Só não o vimos porque nossa atenção sempre recai sobre as coisas, nunca sobre a ausência delas.
infinite is found exactly between one thing and another. Only we fail to see it because our attention falls always on things, never on their absence.
infinite is found exactly between one thing and another. Only we fail to see it because our attention falls always on things, never on their absence.
quarta-feira, 16 de março de 2011
segunda-feira, 14 de março de 2011
O que você não espera
Ninguém imaginava. Nem eu. Mas foi assim: doeu muito. Era estreito, sólido e asfixiante. Parecia o fim do mundo, mas eu então não sabia que o mundo tinha fim, ou mesmo que existia. Ali era assim mesmo: um antimundo, antilugar, antiespaço, que habitei sem conseguir medir o tempo, porque o tempo ele mesmo eu tampouco conhecia.
Muito estreito, muito sólido, quase áspero, cada vez menor. Podia ser que fosse o eu que crescia, e não o lugar que diminuisse. Afinal, sem tempo e sem espaço, o que era eu para ter alguma identidade, e assim saber-me crescendo?
Fiquei ali durante um infinito. O semespaço é agudo, massacrante, doído, sem posição. Um grito que não termina e entra, berrante e cada vez mais, tímpano adentro.
E quando tudo me apertava a ponto de não ter mais qualquer movimento, quando tudo em mim doía como em um longo e custoso nascimento, quebrei a solidez da casca que sempre pareceu mais forte do que qualquer força minha.
Estiquei, muito devagar, meu corpo. Não encontrei a resistência de sempre, mas o vazio. Expandi. Mais e mais, eu era o que eu não sabia. Escutava a casca rachar e romper; agora em pedaços, mera sombra do que me conteve. Ganhei o espaço, o vazio, o podermoverse. Lugar, mundo, tempo.
Rastejo. Com as estações, renasço.
✦✦✦
UNEXPECTEDLY
Muito estreito, muito sólido, quase áspero, cada vez menor. Podia ser que fosse o eu que crescia, e não o lugar que diminuisse. Afinal, sem tempo e sem espaço, o que era eu para ter alguma identidade, e assim saber-me crescendo?
Fiquei ali durante um infinito. O semespaço é agudo, massacrante, doído, sem posição. Um grito que não termina e entra, berrante e cada vez mais, tímpano adentro.
E quando tudo me apertava a ponto de não ter mais qualquer movimento, quando tudo em mim doía como em um longo e custoso nascimento, quebrei a solidez da casca que sempre pareceu mais forte do que qualquer força minha.
Estiquei, muito devagar, meu corpo. Não encontrei a resistência de sempre, mas o vazio. Expandi. Mais e mais, eu era o que eu não sabia. Escutava a casca rachar e romper; agora em pedaços, mera sombra do que me conteve. Ganhei o espaço, o vazio, o podermoverse. Lugar, mundo, tempo.
Rastejo. Com as estações, renasço.
✦✦✦
UNEXPECTEDLY
Noone would have thought it. Neither would I. But it was like this: it hurt terribly much. It was narrow, solid, smothering. It seemed like the end of the world, but I then had no knowledge the world could end, nor that it did exist. This is how it was: an antiworld, antiplace, antispace, which I inhabited without ever being able to measure time, as time itself was also something I failed to know.
It was very narrow, very solid, almost coarse, smaller and smaller. It could be the I that grew and not the place that got smaller. After all, with no time and no space, what was I to have any identity, and thus know myself to be growing?
I remained there endlessly. The absence of space is acute, murderous, hurtful - no place is a place to be. It's a cry that stays and invades your ears yellingly, with increased force.
And when all squeezed me to the point of depriving me from any movement, when all in me hurt as if in a long and troublesome birth, I broke the solidity of the shell that always seemed to be stronger than any effort I could ever make.
Slowly, I stretched and found not the usual resistance but emptiness. My body expanded and I was more and more that which I failed to know. I heard the shell crack and break; now in pieces, it was a mere remnant of what once contained me. I broke into space, emptiness, movingness. A place, the world, time.
I crawl. Every season sees me reborn.
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